Reportagem: Marcos Pinheiro / Raphael Sampaio – Assessoria Adepol-AM

A Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Amazonas – Adepol-AM – entrevistou a delegada Mary Anne Trovão, que desde 2013 ingressou nos quadros da Polícia Civil do Amazonas, e desde então, desenvolve o trabalho de autoridade policial com intensa dedicação, por onde passa. Conheça um pouco mais das histórias vividas por esta delegada que, em pouco tempo, já começa a escrever uma história vitoriosa na Polícia Judiciária amazonense.

Adepol-AM: Como começou sua carreira na Polícia Civil do Amazonas?
Mary Anne Trovão: Passei um ano e meio em São Gabriel da Cachoeira, e atualmente tenho esta experiência na calha do Juruá. No início, ainda que sendo no mesmo Estado, a diferença cultural é bem grande. Em Eirunepé a sociedade ainda tem mais resistência a uma mulher no comando das duas delegacias da cidade, chegando a ter, inclusive, passeatas, em protesto contra prisões em flagrante que realizei no município. Por conta disto, adotei uma postura mais rígida no município. E durante cerca de dois meses aconteceu algo inusitado, porque todos os cargos públicos dos órgãos ligados ao judiciário, ministério público, polícia, o judiciário e a defensoria eram comandados por mulheres, e as quatro mulheres coordenavam esses pontos chave da cidade. Então percebemos que houve de certa forma uma intenção de atacar o sexo feminino, tanto que cheguei a virar pauta de discussão na tribuna da Câmara Municipal. Por duas vezes tive que ir in loco para defender a instituição Polícia Civil, que acaba sendo atacada, além da condição de mulher. Desde então, os ataques diretos não têm mais acontecido, mesmo sabendo que a cultura popular ainda é resistente às mulheres no comando.

Adepol-AM: Qual sua origem e como percebeu que poderia ser Delegada de Polícia?
MAT: Sou maranhense, trabalhava no Ministério Público de Rondônia, mas desde a faculdade eu sempre gostei muito da carreira policial. Tinha amigas delegadas que contavam as histórias da profissão e num certo momento imaginei que eu poderia dar certo na atividade. Fiz o concurso e sempre digo que a Polícia é uma relação de amor e ódio. Eu amo minha profissão, mas em alguns momentos a carga de stress, o perigo e a saudade dos familiares me fazem perguntar por que não sair. Mas vejo que é isso mesmo que eu gosto de fazer.

Adepol-AM: Qual a importância da Adepol-AM?
MAT: Estou há três anos no interior do Amazonas. Numa necessidade, vejo que se precisar de um suporte jurídico, ou de colegas, eu terei. Quando precisei de um apoio de colegas, que procurei algumas delegadas, me senti acolhida pois todas foram muito solidárias. Além de ser uma instituição forte no Brasil, ela conseguiu agregar aqui no Amazonas. Além do acolhimento, também sinto uma proteção, em uma eventual necessidade de suporte jurídico, ou um plano de saúde, é melhor se associar. Vejo mais aspectos positivos em agregar numa classe que eu gosto

Adepol-AM: Que casos lhe guardaram mais recordações?
MAT: Algumas situações são engraçadas, outras perigosas. Em Eirunepé é comum usar facas ou terçados. Certo dia chegou uma senhora de aproximadamente 50 e poucos anos questionando que o filho dela estava preso e se eu poderia conduzi-lo ao hospital. Apesar de termos aproximadamente 50 presos, eu lembrava do filho dela porque era um rapaz bem grande. Durante essa conversa, ela vinha chegando perto me acusando de ter prendido o filho dela e dizendo que eu ia ver o que ela ia fazer comigo. Nesse momento pedi que ela retornasse para casa e ela perguntou se eu achava que era “mais mulher que ela”. Quando ela perguntou isso, respondi que sim, e que era a Delegada da cidade. Tive que dar uma chave de braço nela para imobilizar e algemar a senhora na recepção. Naquele momento eu vi que até de uma conversa informal pode ter seus riscos. Ela poderia estar com uma faca, ou uma arma, além de estar com seus familiares ali, que não reagiram. Percebi que temos que estar todo tempo em alerta.

Adepol-AM: O que a senhora considera mais importante para quem quer ser Delegado de Polícia?
MAT: A pessoa que decide ingressar no cargo de delegado de polícia tem que ter a consciência que vai trabalhar, tem que se dedicar, e temos percebido a importância de um delegado em uma cidade, especialmente no interior do Amazonas. É ele que ainda tenta dar o mínimo de justiça na cidade, promovendo a paz e a ordem no local. É uma atribuição perigosa, mas também é gratificante, há um crescimento e uma valorização das pessoas que antes não tinha. É importante termos esse outro olhar, técnico e de civilidade, ainda mais agora, com tantas mulheres na liderança. Espero que quem venha a ingressa, tenha esse pensamento de trabalho e doação.